Há 10 anos aproximadamente procurei um Pronto Socorro por causa de uma suspeita de fratura num dedo do pé.
Para minha surpresa a primeira providência após preencher o formulário para ser atendido foi que me colocaram na Sala de Espera no soro com glicose. Sempre me perguntei o porquê. Sempre suspeitei.
Para minha surpresa a primeira providência após preencher o formulário para ser atendido foi que me colocaram na Sala de Espera no soro com glicose. Sempre me perguntei o porquê. Sempre suspeitei.
Vieram mais recentemente as máfias das próteses.
Agora a Folha de SP deixou claro na matéria "Hospitais Premiam Médicos Que Indicam Mais Exames".
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2017/02/1861919-hospitais-premiam-medicos-que-indicam-mais-exames.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2017/02/1861919-hospitais-premiam-medicos-que-indicam-mais-exames.shtml
Segue o texto na íntegra:
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Hospitais privados do país adotam
programas de benefícios que, entre outros critérios, premiam médicos pelo
volume de exames, cirurgias e internações que realizam.
Quanto mais procedimentos, mais
pontos ganham na avaliação –que inclui itens como fidelização, adesão aos
protocolos clínicos e atuação em ensino e pesquisa.
O médico que soma mais pontos
consegue mais reputação dentro do hospital e privilégios como presentes,
descontos em exames para ele e seus familiares e prioridade no uso do centro
cirúrgico.
Na condição de anonimato e de não
identificar a instituição em que atuam, a Folha conversou com 12 médicos
de hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. Todos
confirmam a existência de programas de benefícios em que o volume de procedimentos
é considerado na premiação.
"O médico do
pronto-atendimento que interna mais ganha mais pontos", conta um médico do
Rio de Janeiro. "Tem um médico que segura paciente internado sem
necessidade só para gerar mais diária hospitalar", relata um outro de São
Paulo.
"Eu já ouvi pressões do tipo:
'a ressonância precisa ser otimizada'", afirma um médico de Porto Alegre
(RS). "Aqui se pede exame de urina até para unha encravada", diz
outro de Salvador (BA).
A prática tem sido questionada por
especialistas em ética e em gestão porque pode resultar em procedimentos
desnecessários, que expõem pacientes a riscos, e no aumento do custo da saúde-a
conta vai para os planos, e quem paga são os usuários.
"Não se pode atrelar a
participação médica a nenhuma volumetria. Seria como remunerar bombeiro que
apaga mais incêndios. Logo começariam a queimar casas para ganhar mais",
diz Francisco Balestrin, presidente da Anahp (Associação Nacional de Hospitais
Privados).
Ele afirma que a prática não é
"corrente" entre as instituições e que há vários programas pautados
pela ética. Em março, a Anahp fará em um evento com dirigentes para discutir um
"mapa de riscos", e os programas de benefícios entrarão na discussão.
Para o médico Yussif Ali Mere Jr.,
presidente da Federação e do Sindicato de Hospitais, Clínicas e Laboratórios,
"a era de o médico fazer tudo o que quer e ser valorizado pelo hospital
[por gerar mais lucro] tem que acabar". "O custo é
insustentável."
Pedro Ramos, diretor da Abramge
(Associação Brasileira de Planos de Saúde), diz que a entidade tinha
informações sobre esses incentivos por volume, mas nunca conseguiu provar que
eles existiam. Agora, deve pedir uma investigação sobre isso. "É
inaceitável", afirmou.
Para ele, a raiz do problema está
no modelo de remuneração. Os hospitais ganham dos planos pela quantidade de
serviços que prestam ("fee for service"), não pela qualidade da
assistência que prestam ao paciente.
"Os hospitais estão cada vez
mais ricos, e os planos cada vez mais pobres. É dramática a situação." Em
razão da crise econômica, os planos perderam mais de 2 milhões de usuários em
dois anos.
Ali Mere Jr. também acredita que é
preciso mudar o modelo de remuneração, mas discorda de Ramos. "Os
hospitais estão mais caros, mas não mais ricos."
EXCESSO NO USO
Gláucio Libório, presidente do
Instituto Ética Saúde, critica programas que incentivam volume de procedimentos
e diz que eles abrem brechas para crimes como os vistos na "máfia das
próteses".
A prática é investigada há dois
anos pela Polícia Federal e ao menos 40 pessoas já foram indiciadas. Além de
compras superfaturadas, que lesaram o SUS e os planos, em alguns casos
cirurgias foram indicadas sem necessidade.
"Sou totalmente contra
programas que envolvam volume. Médicos não podem receber nenhum benefício
atrelado a quantidade de procedimentos de nenhum tipo."
O cardiologista Luís Cláudio
Correia, representante da Choosing Wisely no Brasil (campanha contra o excesso
de exames e o sobrediagnóstico), não acredita que os programas tenham papel
crucial em indicações excessivas ou desnecessárias de exames.
"A questão é mais cognitiva do
que de premiação, de incentivo. Imagino que na ausência de qualquer conflito de
interesse, o 'overuse' continuaria prevalente."
Para o intensivista Guilherme Barcellos,
membro honorário da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar e coordenador da
Choosing Wisely Brasil, não é frequente nesses programas uma remuneração direta
a médicos por indicações de procedimentos.
"Entram num combo que garante
privilégios. Mais receita para o hospital e o médico vira 5 estrelas, ganha
estacionamento grátis, lavagem do carro e coisas do tipo."
EINSTEIN 'EXPORTA' PROGRAMA
Considerado modelo no setor, o
programa de benefícios do hospital Albert Einstein está sendo replicado em
outras oito instituições do país.
Segundo o presidente do hospital,
Sidney Klajner, o programa de segmentação médica é usado como forma de
fidelizar profissionais autônomos à instituição. São 70 indicadores que geram
pontuações que classificam médicos como "premium, advance, evolution e
special".
Os indicadores são baseados em
qualidade (adesão a protocolos, interação com a equipe), fidelização (número de
pacientes trazidos para o hospital), filantropia (atividades voluntárias nos
programa filantrópicos) e participação em ensino e pesquisa.
Klajner diz que o hospital valoriza
mais a fidelidade do médico ao Einstein do que o volume de procedimentos.
"Médicos que têm cadastramento
e internam pacientes em vários hospitais têm pontuação menor do que aquele que
estão exclusivamente no Einstein."
Segundo ele, em relação a exames,
para cada especialidade existe uma meta mediana esperada. "A partir dessa
mediana não é contado mais nada. Estamos mais interessados que o médico peça o
exame no Einstein e não no Fleury do que no volume."
O Einstein vetou recentemente uma
prática que poderia gerar conflito de interesse: postos de coleta de exames
mantidos por laboratórios em consultórios médicos.
"Por mais que cause perda de
receita, isso poderia gerar incentivo para exames complementares
desnecessários."
Também proíbe que seus médicos
recebam comissões por tipo de quimioterapia que indicam. "Perdemos
profissionais por isso."
O Hospital Sírio-Libanês diz que
não remunera os médicos por quantidade de exames e que "repugna essa
prática". Também não há remuneração por quimioterapia indicada, segundo o
CEO, Paulo Chapchap. "Os médicos são remunerados pelo cuidado com o
paciente."
O Hospital Oswaldo Cruz disse que o
porta-voz indicado a falar sobre o assunto estava viajando.
O Hospital Moinhos de Vento, de
Porto Alegre, informou que seu programa médico passa por reestruturação e que
só se manifestará após a conclusão do processo.
A Rede D'Or, que tem 31 unidades no
país, disse que "não tinha interesse em participar da reportagem".
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